terça-feira, 16 de outubro de 2007

Poema

Após a capital queda


Num poço, imerso ao pescoço estou, em bosta;
Longe de paraíso, cristão ou ateu.
Moço que se imolou em seu próprio breu.
Narciso às avessas, cuja imagem detesta.

A relva que me serve de leito é daninha,
A pasta que rumino qual pasto é infesta,
Catervas de bernes habitam-me e atesta,
Que o humano se resta, só me toca à crosta.

Réprobo, culpado de minha própria culpa,
Expio incrédulo pecados supostos.
Ázigo cercado por récua sem rosto
Carrego enfermo patíbulos eternos.

Pairo, sem rota, como poeira revolta.
Anaclítico levado pelos infernos,
Sou órfão que purga castigos paternos.
E a roupa que envergo me aquece e sepulta.

Sem um sítio de meu
Vago a encontrar botas,
Onde Judas as perdeu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Josias,

Belo e forte poema tão marcante e proposital em sua feitura.

Fiquei impressionado com a força de alguns versos que destaco:

Moço que se imolou em seu próprio breu;

Catervas de bernes habitam-me e atesta;

Réprobo, culpado de minha própria culpa;

E a roupa que envergo me aquece e sepulta.

Sensacional.

Dimas Lins

Josias de Paula Jr. disse...

Valeu!