O Predestinado
Os vincos no seu rosto esgravatado
São frutos da lágrima farta e ácida
Que se faz ravina, ou gretas de árido
Barro, projeção do deserto d´alma.
Ao agitado olhar se descortina
O índigo céu da terra prometida.
Ao futuro diz mirar a retina,
conquanto erga de passado a vida.
Suas portináricas pernas, rijas,
Desdenham de óbices, empecilhos.
Dissimula, assim, traçado tranquilo
De caminho por vereda perdida.
Calca orgulhoso o chão plúmbleo e maciço,
Forrado com a neve da certeza.
Com empenho se reveste à realeza,
Mas dentro é lenho sem verniz ou viço.
A voz límpida e alteada, trafica
Fragor de assombro, sombra da verdade.
Finge sincera crença no que dita,
Ocultando sua dúvida em alarde.
E, por fim, se traz semblante seguro,
É por temer a liberdade rútila,
Refugiando-se dentro da estúpida
Calma dos que trocam a luz pelo escuro.
2 comentários:
"Oculatando", hein? Tás lendo muito Lorca ultimamente? Qualquer dia escreves "crebro". Muito boa.
eh, ganhasse um ombudsman...
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