terça-feira, 9 de outubro de 2007

Poema


O Predestinado


Os vincos no seu rosto esgravatado

São frutos da lágrima farta e ácida

Que se faz ravina, ou gretas de árido

Barro, projeção do deserto d´alma.


Ao agitado olhar se descortina

O índigo céu da terra prometida.

Ao futuro diz mirar a retina,

conquanto erga de passado a vida.


Suas portináricas pernas, rijas,

Desdenham de óbices, empecilhos.

Dissimula, assim, traçado tranquilo

De caminho por vereda perdida.


Calca orgulhoso o chão plúmbleo e maciço,

Forrado com a neve da certeza.

Com empenho se reveste à realeza,

Mas dentro é lenho sem verniz ou viço.


A voz límpida e alteada, trafica

Fragor de assombro, sombra da verdade.

Finge sincera crença no que dita,

Ocultando sua dúvida em alarde.


E, por fim, se traz semblante seguro,

É por temer a liberdade rútila,

Refugiando-se dentro da estúpida

Calma dos que trocam a luz pelo escuro.

2 comentários:

Marconi Leal disse...

"Oculatando", hein? Tás lendo muito Lorca ultimamente? Qualquer dia escreves "crebro". Muito boa.

Anônimo disse...

eh, ganhasse um ombudsman...