terça-feira, 30 de outubro de 2007

Poema

Desabafo
Ao perscrutar os segundos
da vida que lhe escorria,
julgou que seu dia-adia
era uma soma de escombros:
cacos de rotina fria
pesando sobre seus ombros.



Poema retirado do desabafo "Sem assunto 2", de Ana. A Ninha do ninhodaninha.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Boa Vista


Um sujeito relaxado, que não liga pra muita coisa, até preguiçoso. Desses que aproveitam o chiclete usado, que se encontra escondido por baixo do assento da cadeira. Leva a vida assim, como se masca um chiclete gasto.
Era por volta das 2 da madrugada e ainda bebia num boteco próximo ao Pátio de Santa Cruz. A radiola de ficha fazia um barulho infernal, tocando todo tipo de brega. Já estava bêbado. Tinha fome também. Calculou o dinheiro que lhe restava; desistiu de comer. Pegou um cigarro do maço amassado, e chamou o garçom com cara de índio paraguaio: “Chefia, quanto deu aqui?”
Passara a noite toda atrás de mulher. Queria muito trepar. Não rolou com nenhuma das mulheres que topou; pareciam sempre não ter pressa para o sexo. Ele tinha. Não estava a fim de frescuras. Pensava: “Hoje é quer ou não quer?” Ou então, “Quer quanto?” Resolveu ir para um puteiro.
Na rua semi-escura apenas um ou outro bêbado, umas putas e dois travestis. Passou ligeiro. Não queria brincadeira. Se um daqueles travecos soltasse uma gracinha, matava de porrada. Dobrou à esquerda e foi dar na avenida principal do bairro. Há alguns metros um grupo de pivetes, quase todos tocados a craque, outros a cola, sacaneavam com um aleijado. Sem pernas, sobre uma tábua montada em rolimãs, esse não conseguia se livrar do grupelho de moleques. Aproximou-se da cena: com gritos e ameaças dispersou o bando. Odiava aquela gritaria! Nem se deu conta do perigo que corria...O aleijado gritava, com voz gasguita, um bocado de desaforos. Nem falava nem chorava. Olhava e mexia os braços na direção dos menores. Gritando, gritando... Era desagradável aquele seu grunhido. Lembrava o cio de cadela.
Ficou irritado; chegou-se mais perto do aleijado, pelas costas, e deu-lhe um cascudo tão forte que por um momento chegou a pensar que lhe tinha rachado o crânio. O miserável soltou um ganido medonho e caiu da tábua chorando muito. Do outro lado da rua os moleques gargalhavam. Deu as costas e seguiu. Os pivetes voltaram a se aproximar do sem-pernas.
No fundo estava chateado. Não gostava de fazer aquilo com velhos. Não sabia por quê. Talvez pela saudade do pai, do avô... Mas não gostava.
Chegou ao puteiro que costumava freqüentar. Cumprimentou Doninha, a proprietária, e algumas raparigas. Pediu bebida.
- Doninha, Yolandi tá grávida? – perguntou.
- Tá sim, não sabia?
- Não. Como é que eu ia saber? Faz tempo que não via essa daí.
- Seis meses de gravidez já.
- E ainda trabalhando?
- Eu já avisei a ela que esse é o último mês. Mas tem cliente que gosta.
- Isso é um bando de filho da puta! – comentou.

Decidiu dar todo o trocado que tinha para “aquela louca”, como a julgava. Simpatizava com Yolandi. Lembrou-se das vezes que fez programa com ela. E, ainda por cima, ela era muito nova. “Quantos anos deve ter essa menina? Uns 18 no máximo”, calculou. Pendurou a cerveja que havia pedido e saiu.
Quando quase acabava de atravessar a ponte, parou. Lembrou-se, deu meia volta e se dirigiu novamente à parte mais alta da ponte. Olhou em várias direções, pensou: “Essa merda de cidade é bonita”. Conferiu se vinha alguém, pegou a pistola que trazia e sacudiu no rio. Quase já estava esquecido do velho que havia matado há algumas horas.

Poema


Digestão antiutópica

Num banquete incessante devoro -
Qual a harpia ao fígado insolente,
Meus alvares desejos de olimpos,
Em repasto bulímico e inútil.

Fome de deuses, que não se aplaca.
Rumino sonhos em baba ácida!

Após tal noite terrível, tez de pantera,
Que mísera alva, raquítica, se espera?

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Imagem - Dialética

... há tempo...




Dialéticas

Quando a realidade é pesadelo,
o sonho é a única possibilidade.
Mas sonho que não se alcança, cansa;
e o que se faz realidade...
é pesadelo!

Poema

Tempus regit actum
No instante em que a pedra rolou
da íngreme escarpa do monte
inatingível, um deus jazia
na sua solidão de asceta.
Indiferente ao fato se amor
brotava da abrupta travessia
da pedra, que buscava horizonte
no risco da mudança incerta.
Ao rolar da pedra, desmorona
o monte com as plantas vetustas;
com seus ninhos de assustados pássaros
que fogem nas volutas do vento.
Sob escombros o novo assoma,
do rumor da terra em sobressalto,
da angustia da vida que luta
contra a morte no seu nascimento.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A única opção possível


Era um dia de plantão como outro qualquer. Aos domingos, na verdade, o movimento era mais intenso, refletindo o rotineiro aumento de atitudes violentas no dia de folga da população. Acabara de atender a um paciente ferido por golpes de faca em suas costas e braço; ainda não sabia se conseguira salvá-lo.
De passagem pelo corredor, encontra um querido amigo:
- Esse teu time não vale nada!
- Que nada! Descuido de time grande...
Gostava muito de futebol e, talvez ainda mais, de gozar seus amigos.

Às 19:30h deu-se o evento. Dá entrada em seu setor um sujeito ensangüentado, acompanhado por dois policiais – um sargento e um soldado. Pela sua experiência sabia se tratar de uma vítima de arma de fogo. Passou as instruções devidas aos enfermeiros, concentrava-se, preparando-se para mais uma intervenção cirúrgica, quando foi abordado pelo sargento:
- Esse aí não se salva não, doutor.
- Como? – pergunta o médico atônito.
- Esse não pode se salvar. Entende? Não pode! Matou um da gente. Esse acaba aqui!
- Você está insinuando que eu o mate?
- Doutor, sinceramente, a escolha é sua: se ele sair vivo daqui, morrem os dois depois; se você colaborar, morre só ele e ninguém fica sabendo de nada.
O médico entrou na sala de cirurgia tremendo. Em seus anos de vivência em emergências nunca havia se defrontado com algo semelhante, nem tampouco ouvira relatos parecidos por parte de algum colega. O médico anestesista terminava seu procedimento. Decidiu, por um breve instante, comunicar-lhe o acontecido, dividir a angustia; poderiam, juntos, encontrar alguma solução. Desistiu. Teve receio que fosse inútil e apenas resultasse em pôr mais uma vida em risco.
O médico anestesista lhe deseja boa sorte e sai de cena. Chega o seu momento. Transpira mais que o habitual. “Não posso fazer isso”, pensava. “Vou me tornar um cúmplice!”. No entanto, a possibilidade de ser morto provocava forte impressão na sua alma. Era um homem jurado! Claro, pois as palavras do sargento não foram outra coisa que um juramento de morte, mesmo que velado.
Pergunta aos assistentes:
- Vocês sabem alguma coisa sobre ele?
- Tentou roubar uma farmácia. Na hora passava uma viatura de polícia pelo local. Houve troca de tiros. Sobrou para ele. Os dois comparsas fugiram. Parece que um policial morreu – respondeu um deles.
- Quer dizer que é um bandido?
- É sim. É ladrão.
- Por favor, consiga água pra mim. Estou com muita sede – requisita o médico. Deixe que eu seguro as pontas por aqui.
- Tem certeza?! – pergunta o assistente, de certa forma surpreso com o pedido incomum.
Vacilava. Os olhos de súplica, que dirigia ao cirurgiado, poderiam parecer aos que o circundava, um atestado singular de humanidade! Eram olhos esgazeados e perdidos Acaso optasse pela morte do bandido, suas ações era limitadas. Teria de disfarçar, despistar, iludir. Seu espírito titubeava entre escolhas vitais. Pensou, e agiu como julgava que deveria fazer.
Voltou para casa às 22:30. Estava exausto. Tinha um ar atormentado, o qual foi notado pela esposa que o esperava acordada.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada. Esses plantões de domingo é que são um inferno!
Tomou banho. Vestiu-se. Passou pelo quarto da filha, olhou-a dormir. Nada nesse mundo lhe era mais caro. Aproximou-se da esposa, conversou amenidades. De repente imaginava-se separado de tudo aquilo ali, da casa, da mulher etc. Abraçou-a. Balançou a cabeça. Bobagem. Desviou a conversa para os projetos que acalentavam juntos: a viajem de férias e a troca de apartamento. Gostava de observá-la animada, fazendo cálculos, imaginando novos planos... Era assim que gostava e queria vê-la.
Quando se deitaram, pensava consigo, “falhei”. Acordou mais cedo que todos, foi até a varanda, contemplou a rua. Sorriu um sorriso resignado. Um riso que, não se sabe, era de alívio, ou de despedida.

Poema

Após a capital queda


Num poço, imerso ao pescoço estou, em bosta;
Longe de paraíso, cristão ou ateu.
Moço que se imolou em seu próprio breu.
Narciso às avessas, cuja imagem detesta.

A relva que me serve de leito é daninha,
A pasta que rumino qual pasto é infesta,
Catervas de bernes habitam-me e atesta,
Que o humano se resta, só me toca à crosta.

Réprobo, culpado de minha própria culpa,
Expio incrédulo pecados supostos.
Ázigo cercado por récua sem rosto
Carrego enfermo patíbulos eternos.

Pairo, sem rota, como poeira revolta.
Anaclítico levado pelos infernos,
Sou órfão que purga castigos paternos.
E a roupa que envergo me aquece e sepulta.

Sem um sítio de meu
Vago a encontrar botas,
Onde Judas as perdeu.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Poema

Matéria

Se trago essa alma de gelo
e tenho os nervos de aço
e clame com voz de veludo:
“- Devagar, o santo é de barro”;

é que por trás desse metálico sorriso,
e desse inquebrantável silêncio de surdo,
sou estilhaços de mil e um conteúdo!

En passant

Quando olhava fixamente para seu adversário, tinha sincera vontade de rir: o nervosismo dissimulado com elegância, a arrogância respeitosa, a alma absolutamente arrebatada na ambigüidade daquele momento. Que sofrimento daquele pobre diabo!
Há exatos vinte e dois anos era campeão mundial; de certa forma, quando agora mirava seu oponente, julgava ver nele uma cópia sua de mais de vinte anos passados, quando tinha quarenta e cinco anos e se julgava jovem, e ao mundo importante. E isso o irritava ainda mais.
Durante todos esses anos fora exaltado e vivera sob o peso da mais circunspeta respeitabilidade pública. Fora um tempo exaltado e extenuante, de estudo contínuo, teorização e probabilidades. Portanto, essa última partida do Match, o jogo de desempate, soava-lhe como um alívio. E deixou-se absorver por raciocínios estranhos à situação, pelas memórias de uma vida que acreditava ter pouco sentido. Assim, não cobria consequentemente o avanço do cavalo na ala da dama e desleixadamente deixava-se dominar na perspectiva tática.
Sempre comparara a vida ao xadrez: a obrigação das ações planejadas, de ilações implacáveis; a atenção totalizadora; o exercício ininterrupto de antecipar o futuro; a necessidade de ocupar posições centrais. Logo, nessa altura de sua existência, era natural que se desinteressasse também pelo xadrez. E por isso continuava movendo as peças mecanicamente, apenas adiando o desfecho verdadeiramente desejado com posicionamentos defensivos e volteios logrados por sua profunda experiência.
Absorto, pensou na família distante, nos amigos assoberbados e nos já mortos, no patrimônio acumulado sem por quê. Tais pensamentos confrontados com a fisionomia a um só tempo agônica e retraída de seu oponente, suscitavam-lhe o melancólico gozo irônico. Explicitamente permitiu ao peão adversário capturar en passant o seu peão da coluna do bispo, tornando quase inevitável sua promoção. Comprazia-se com a dúvida do contendor, seu receio de ciladas!
No momento em que a distinta audiência prorrompeu em aplausos e o homem do lado oposto do tabuleiro estendia-lhe a mão, sorriu profundamente. Já não era mais o campeão.
O velho enxadrista retirou-se do recinto sem tecer comentários ao jogo. De fato, aquele momento seria sua última aparição pública. Isolou-se numa pequena propriedade no interior, recusando-se a receber jornalistas, colegas e estudiosos, até sua morte. O grande campeão guardou-se em seu mistério e seu silêncio. Findou seus dias como a torre que lhe restara, naquela sua última partida: afastada do turbilhão dos movimentos, sem guarnecer posições importantes, alheia. Tranqüila.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Poema


O Predestinado


Os vincos no seu rosto esgravatado

São frutos da lágrima farta e ácida

Que se faz ravina, ou gretas de árido

Barro, projeção do deserto d´alma.


Ao agitado olhar se descortina

O índigo céu da terra prometida.

Ao futuro diz mirar a retina,

conquanto erga de passado a vida.


Suas portináricas pernas, rijas,

Desdenham de óbices, empecilhos.

Dissimula, assim, traçado tranquilo

De caminho por vereda perdida.


Calca orgulhoso o chão plúmbleo e maciço,

Forrado com a neve da certeza.

Com empenho se reveste à realeza,

Mas dentro é lenho sem verniz ou viço.


A voz límpida e alteada, trafica

Fragor de assombro, sombra da verdade.

Finge sincera crença no que dita,

Ocultando sua dúvida em alarde.


E, por fim, se traz semblante seguro,

É por temer a liberdade rútila,

Refugiando-se dentro da estúpida

Calma dos que trocam a luz pelo escuro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A volta


Tramou durante meses. Aquilo virara uma obsessão: tinha de sair com aquela mulher. Colheu informações sobre ela, seguiu-a por um tempo, desvendou-lhe hábitos. Entre outras coisas, descobriu que ela sempre almoçava no conceituado Dórias´s às sextas-feiras. Demorava-se cerca de duas horas, conversando com amigas. E que tinha uma queda por homens “que sabem vencer na vida”.
Com ajuda de falsificações conseguiu um empréstimo bancário. Em posse do dinheiro iniciou o cerco. Sempre vestido impecavelmente, exibindo grifes, abordou-a, pagou-lhe contas, ofertou presentes. Nos dias em que se encontravam, inicialmente sempre no Dórias´s, alugava um carro de luxo, sempre o mesmo, para incutir a idéia de posse.
Um dia, encontrou com um amigo que conhecia o plano:
- E aí? Como andam as coisas? Já conseguiu?
- Estou quase lá! – disse eufórico, arreganhando os dentes como se fosse escová-los.
- Você vai ficar é louco com essa história! E esse dinheiro, rapaz? Como tu vai pagar esse empréstimo?
- Isso se resolve depois. Você a viu. Por uma mulher daquela se faz qualquer coisa! E Ela já está caindo na minha... Estou quase traçando! (esfregou as mãos).
- Bom, quem avisa....
- Deixa comigo. Tu precisavas ver.... (seguiu gabando-se de seu papo)
Chegou o dia. Ela, mais curiosa que encantada, concordou com um encontro. Marcaram para se encontrar à noite. Ele sempre muito gentil, galante. O seu espírito babava, antecipando prazeres. A novidade de uma nova vida – bons restaurantes, jantares, vinhos finos -, também o excitava.
Morava num bairro afastado, freqüentava botecos. Daí, durante todo esse tempo de impostura, evitou os antigos lugares, a fim de não se revelar a farsa. Para a maioria dos amigos, andava ausente.
Que noite! A fúria carnal do primeiro encontro! Extasiou-se. Nesta noite confirmou o quanto desejava aquela mulher. O amanhecer trouxe beijos e elogios durante o café da manhã.
À noite, teve dúvida se ligava pra ela. Algumas vezes chegou-se ao telefone. Não ligou. Dormiu e acordou pensativo. Foi à padaria. Andou um pouco pelo bairro, saudou alguns conhecidos. Tinha que voltar a vida. Arranjar dinheiro. Teve a idéia, voltou a casa.
Sentou-se a mesa, um grande copo de água à frente, tomou tranqüilizantes. Matou-se, cansado de ser ele mesmo.
No recibo do empréstimo bancário encontrado a seu lado, leu-se a sentença: “não existe mais vida, depois do que fiz”. E muitos julgaram ler na mensagem uma prova de arrependimento!
* "Don Juan and Haidee", painted by Alexandre Marie Colin, 1883 (imagem)

Reais aparências


Após um duro dia de trabalho...

- Estou morto! - disse o coveiro.

Poema


O periquito na madrugada


sua cegueira de pássaro
guarda seu medo ancestral

nas trevas, seus olhos vãos
tornam-lhe impróprio o chão

aflição de urgente mal
automatiza-lhe o poleiro?

seu mundo de estupor
carrega um destino aflito

qual primeiro predador
deu origem a teu temor?

que medo faz vir o grito
milenar do periquito?

domingo, 7 de outubro de 2007

Dialéticas

Sempre que se sabe o certo
É por se estar fora dele
Mesmo que se julgue tão perto

O amor de Tadeu

Amava a esposa. Gostava de levar pequenos presentes para ela. Depois da reunião, passou no shopping. Antes de entrar na loja, parou na praça de alimentação, tomou alguns chopes, deu espaço para passar os minutos. Olhou o relógio, pediu a conta.
- Tem o novo disco da Marisa Monte?
- Tem sim, senhor?
- Você pode embalar pra presente?
Pegou o caminho de casa. Na frente do prédio parou ainda uma vez para tomar alguns chopes - precisava beber um pouco e Amanda não o acompanhava. Ela não bebia.
De tempos em tempos, dava uma olhada na direção do portão do edifício. Estava um pouco cansado. Mais uma meia hora, de soslaio, percebe um vulto na portaria. Não quis olhar; em geral, nunca olhava. Pediu a conta e saiu.
Entrou no seu apartamento, mobiliado com tanto gosto! Amanda sai do banheiro, enrolada numa toalha, cabelos molhados, linda.
- Oi Ta, tudo bem?
- Tudo. Um pouco cansado, só.
- O que é isso?
- Pra você.
- De novo - diz ela, abrindo o presente com um sorriso nos lábios. Deu um beijo rápido em seu rosto.
- Não precisava. Você e sua mania de me dar presentes. Mas, obrigada!
Tadeu se vira, seu olhar repousa na cozinha. E lá na pia, desavisado, um copo com o resto de uma dose de whisky.
- Vou tomar um banho. A reunião foi um saco.
Algumas ruas dali, um vulto sorri saciado, meio irônico, no prazer de enganar e de agir escondido.