O cão
Cão, seus dentes;
a mordida
e a pele
rasgada.
Qual cão
me persegue
e a cada cravada
me arde a alma?
Cão de raiva
ininterrupta,
que me acha
sempre
preso a pregos:
no ermo mais recôndito
do meu ego
Espaço para pequenos relatos dos dramas, misérias e graça do cotidiano. Instantâneos do dia-a-dia que nunca lograram acontecer, mesmo que às vezes pareça o contrário... E, claro, poesia.
5 comentários:
Mais uma metáfora daquelas, quando preciso ancorar meus pés para não perder o rumo da minha prosa aqui contigo.
Desde o 'pulo do gato', os bichos andavam armando motim. Finalmente, chegou.
Mas, este cão aí, eu também o conheço. De vez em quando, também me visita e provoca estragos. Qual não foi minha surpresa, quando descobri que eu mesma é quem o alimentava. Hoje o vejo diferente. Os estragos? Bem, agora eu os entendo como bênçãos. Servem para me lembrar que eu estou presa no meu ego. É aí que tento sair, libertar-me. Um dia, hei de conseguir.
Lindo, Josias! Adoro metáforas! Não sei se por andar pensando nele nos últimos dias, mas lembrei de Gibran com tuas palavras.
Abração.
Magna
Magnífico, Poeta. Hoje dentes amigos cravaram em mim uma tristeza sem aparente razão de ser. Mas acredito que cães nunca mordem sem motivos. Varo a madrugada, mas descubro a provocação que eu possa ter feito.
Belíssimo poema. Estava com saudade de suas palavras.
Uma imagem meio sombria e aterrorizante me veio agora, como se a escuridão do mundo tomasse toda a luz, e o que existe é um bosque tenebroso e um homem se escondendo de um cão feroz e raivoso! Sentimentos que urdem desiguais e que esfacelam vísceras, alma, a sensação íntima de um homem, que está vivenciando um umbral. A treva noturna que trava o raiar do dia...
Tenho umas manias bestas de fazer associações, ponho o teu Cão, ao lado do Corvo do Poe.
;)
Josias, seu poema trouxe-me a lembrança de um soneto de Mauro Mota:
"O CÃO
É um cão negro. É talvez o próprio Cão
assombrado e fazendo assombração.
Estraçalha o silêncio com seus uivos.
A espada ígnea do olhar na escuridão
separa a noite, abre um canal no escuro.
Cão da Constelação do Grande Cão,
tombado no quintal, espreita o pulo:
duendes, fantasmas de ladrão no muro.
o latido ancestral liberta a fome
de tempo, e o cão, presa do faro, come
o medo e atreva. Agita-se, devora
sua ração de cor. Pois, louco e uivante,
lambe os pontos cardeais, morde o levante
e bebe o sangue matinal da aurora."
Grande abraço do Jonas
Forte e belo. Cru. Dancei outra vez a Valsa com Bashir...
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