terça-feira, 10 de novembro de 2009

Poema

Nat Dicknson - Doing Art



O cão


Cão, seus dentes;
a mordida
e a pele
rasgada.

Qual cão
me persegue
e a cada cravada
me arde a alma?

Cão de raiva
ininterrupta,
que me acha
sempre
preso a pregos:
no ermo mais recôndito
do meu ego

5 comentários:

Magna Santos disse...

Mais uma metáfora daquelas, quando preciso ancorar meus pés para não perder o rumo da minha prosa aqui contigo.
Desde o 'pulo do gato', os bichos andavam armando motim. Finalmente, chegou.
Mas, este cão aí, eu também o conheço. De vez em quando, também me visita e provoca estragos. Qual não foi minha surpresa, quando descobri que eu mesma é quem o alimentava. Hoje o vejo diferente. Os estragos? Bem, agora eu os entendo como bênçãos. Servem para me lembrar que eu estou presa no meu ego. É aí que tento sair, libertar-me. Um dia, hei de conseguir.
Lindo, Josias! Adoro metáforas! Não sei se por andar pensando nele nos últimos dias, mas lembrei de Gibran com tuas palavras.
Abração.
Magna

A Autora disse...

Magnífico, Poeta. Hoje dentes amigos cravaram em mim uma tristeza sem aparente razão de ser. Mas acredito que cães nunca mordem sem motivos. Varo a madrugada, mas descubro a provocação que eu possa ter feito.
Belíssimo poema. Estava com saudade de suas palavras.

Canto da Boca disse...

Uma imagem meio sombria e aterrorizante me veio agora, como se a escuridão do mundo tomasse toda a luz, e o que existe é um bosque tenebroso e um homem se escondendo de um cão feroz e raivoso! Sentimentos que urdem desiguais e que esfacelam vísceras, alma, a sensação íntima de um homem, que está vivenciando um umbral. A treva noturna que trava o raiar do dia...
Tenho umas manias bestas de fazer associações, ponho o teu Cão, ao lado do Corvo do Poe.

;)

Unknown disse...

Josias, seu poema trouxe-me a lembrança de um soneto de Mauro Mota:

"O CÃO


É um cão negro. É talvez o próprio Cão
assombrado e fazendo assombração.
Estraçalha o silêncio com seus uivos.
A espada ígnea do olhar na escuridão

separa a noite, abre um canal no escuro.
Cão da Constelação do Grande Cão,
tombado no quintal, espreita o pulo:
duendes, fantasmas de ladrão no muro.


o latido ancestral liberta a fome
de tempo, e o cão, presa do faro, come
o medo e atreva. Agita-se, devora

sua ração de cor. Pois, louco e uivante,
lambe os pontos cardeais, morde o levante
e bebe o sangue matinal da aurora."

Grande abraço do Jonas

Silvia Góes disse...

Forte e belo. Cru. Dancei outra vez a Valsa com Bashir...