quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Poema


Das "Romantic Ruins Paintings"
Arnold Böcklin (1827-1901).

Ruína


Tua forma destroçada pelos anos

conta a história da vida.

As rachaduras: cicatrizes da alvenaria.

A ferrugem: delírio dos metais.


Até quando, assolada pelo vento,

resistirá tua estrutura?

Quando tombarem tuas cariátides,

que mais serão, tuas pedras,

que meras lápides de musgos?


Pelas frestas e flancos abertos

insinua-se a tortura infame dos dias.

Ah! Pobre ruína!


E vai-se teu fundamento.

Ocultas algum mistério?

Ou és, como parece,

abrigo do nada?


Dejeto do tempo,

pobre ruína,

minh´alma!

9 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

O poema é mais que uma exigência cognitiva, é um exercício de reflexão; pode tratar-se de uma edificação, uma obra em ruínas, destruída pelo tempo; ora podemos estar diante de uma elucubração do autor/ator, que diante de si mesmo, se vê carcomido pelo passar das horas...
Mais um belo e reflexivo poema, Josias.

Abraço.

£zterliu disse...

Hummm.. bom jeito de começar. Nunca mais nos lemos num foi? beijo... gostei do texto... como sempre.

Cynthia disse...

Pensei que você havia desistido do blog, Josias. Que bom que não.

Abraço

Patrícia Coutinho disse...

Impossível não pensar em meu pai, ao terminar de ler esse poema. Tocou-me profudamente!

Magna Santos disse...

Mas olha só o que você publica no dia do meu aniversário...
"eita nóis"...
Se eu fosse auto-referente, perguntaria se seria alguma indireta, mas como não sou, digo: foi "direta", DIRETO para todos nós, ruínas de nós mesmos.
Beijo.
Magna

Juℓi Ribeiro disse...

Josias:

Bela construção de palavras
e sentimentos...
Gostei muito.

Um abraço sincero.

Luna Freire disse...

Parabéns, atrasado, pelo 8 de fevereiro! E, agora, a hora da cobrança: - quero poema novo!!!

Kalina Paiva disse...

Se é bem verdade que somos seres em eterna (re)construção, então, admitamos, somos a ruína que se torna habitável em um momento e apenas contemplável em outro. A vida abarca esse movimento dialético. Vejo o destroçar, apontado no poema, como uma metamorfose inevitável a todos nós, até porque não passamos por esta vida incólumes, passamos? Gosto de textos assim que apresentam um espelho que reflete várias imagens que nos acompanham. Aliás, fiquei presa nas garras dessas palavras, olhando fundo nos olhos do dragão, ou melhor, da ruína...