domingo, 19 de setembro de 2010




A imagem é menos a de um círio ardendo suas últimas chamas em uma catedral destruída e abandonada, que a volta de um sol primaveril após um longo inverno. O Inscritos teve direito a seu hibernum... E nesse tempo de ausência, a falta da mão humana, o silêncio quase absoluto, e a brisa gelada fizeram acumular o pó por todos os recantos; assim como deram ensejo às aranhas de tecerem suas teias – armadilhas e vaidade. Mas eis que volto, esse irresponsável anfitrião. Volto de cabeça baixa e ressabiado, mais tímido do que antes, carregando uma culpa pela distância, pela falta de convívio com a(o)s amiga(o)s, pelo tempo perdido com o não trocar de idéias e pela falta de carinho e abraços com as palavras. E, a gente sabe, as palavras são indóceis e temperamentais, não são de tolerar desleixos de amante. Por isso, espero, vou me redobrar na arte da corte a elas: meio e fim de tudo.
Corte que persistirá com seus percalços; corte de galanteador desajeitado, que a vergonha faz tremer o corpo e gaguejar a fala e não saber onde pousa as mãos. E que apela para a compaixão amorosa dessa jovem senhora, a linguagem, e sua capacidade de ler em meus olhos e em meu jeito, o profundo sentimento guardado à força; mas que transborda e mina em cada gota de suor frio.
E é isso. De minha janela vejo já o sol imenso, esplendendo sua luz farta, invadindo a casa e o mundo, fazendo arder as pedras. Eu, que volto, aproveito a oportunidade e mudo de abrigo. Este é o último post aqui no blogspot. Peço a gentileza de todos aqueles que já passaram por aqui, e daqueles que porventura chegarem ainda, que visitem meu novo lar. Ele é um presente de meu amigo Dimas Lins, nosso Diminhas, o arquiteto engenhoso de moradas aconchegantes. A nova casa não tem apenas um novo endereço. Tem novo visual e novo “conceito”. O Inscritos alarga o leque temático, sem abandonar os poemas, contos, etc. Pretende falar de cotidiano, da cidade, de viagens, de música, de livros, de política...
Espero que a mudança seja para o bem. A mudança é açodada, pois há reparos ainda para serem feitos na nova edificação. Mas sua aparência atual já comporta a visita de amigos, que dispensam maiores cerimônias. Despeço-me por aqui. E desejo muito que vocês batam em nova porta; vou estar junto a ela, feliz da vida por recebê-los nesse novo tempo. Até breve!
E pergunta-se: qual o novo endereço? É www.inscritosempedra.com

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ágora


O voto na oposição ao atual governo federal se transforma, cada vez mais, num programa de Índio...

Marina Silva, rejuvenescida com os produtos da Natura, não sabe que caminho tomar: não é carne nem é peixe. Em seu discurso, todo mundo é bom e todo mundo não presta simultaneamente. Plante uma árvore, reze bastante e continue tentando entender o por que ela se candidatou a presidenta...

Mas o grande espetáculo é Serra. Aliás, a chapa Serra-Índio. Meu Deus do céu! Quem inventou um troço desses?! Nas palavras de Serra, a repetir com fastio "o Brasil pode mais", não há a mínima sombra de uma proposta alternativa. É contradição em cima de contradição; ora a favor ora contra o Bolsa Família, por exemplo.

E resolveu que quer ser, de toda forma, um político simpático e carismático... Se não fosse o apoio hegemônico dos maiores veículos de comunicação - a "grande mídia" - sua postulação já teria ido para o beleléu. Ficará imortalizado por dois momentos antológicos. O primeiro se deu, quando usando de um tempo generoso que lhe fora cedido pela rádio de maior audiência de Pernambuco, cantou feio pra danar e errado a canção "Respeita Januário", um clássico popular interpretado por Luiz Gonzaga; crianças que ouviam o programa - espalhadas por todo o estado - choraram compulsivamente ao mesmo tempo, agarrando-se em suas mamães...

O segundo foi mais comovente... Ao lado de José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, ex-preso e ex-vice dos seus sonhos (digo, de Serra claro), Serra soltou a anedota lapidar, antevendo o que seria, naquele momento, o slogan da campanha: "Vote num careca e leve dois". Deu no que deu.

Para aqueles que ainda insistem no caminho tenebroso do Serra-Índio, resta ir pagando pedágios aos montes e, caso tenham senso de humor, rirem das trapalhas do candidato sem graça...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poesia


Poeminha de fim de tarde

Que pressa é essa
que sem vergonha
exige que o sol se ponha?

E nesse passo vai-se o dia
num tic tac que desvirtua -
por mero capricho da lua

Giro o ponteiro ao avesso
Meu tempo, sem faniquito:
aponta para o infinito

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Poema


Das "Romantic Ruins Paintings"
Arnold Böcklin (1827-1901).

Ruína


Tua forma destroçada pelos anos

conta a história da vida.

As rachaduras: cicatrizes da alvenaria.

A ferrugem: delírio dos metais.


Até quando, assolada pelo vento,

resistirá tua estrutura?

Quando tombarem tuas cariátides,

que mais serão, tuas pedras,

que meras lápides de musgos?


Pelas frestas e flancos abertos

insinua-se a tortura infame dos dias.

Ah! Pobre ruína!


E vai-se teu fundamento.

Ocultas algum mistério?

Ou és, como parece,

abrigo do nada?


Dejeto do tempo,

pobre ruína,

minh´alma!