Folha Seca
Já vicejei em frondosa árvore,
fruindo seiva pura da terra.
Hoje não há quem se arvore em ver-me:
pairo só, estranho cadáver.
Sem alarde povôo as esquinas;
à surdina evolo em moinhos,
sem vontade, cativa da brisa,
sou varrida por pés e ancinhos.
Sonho ao menos no rio banhar-me
e à cidade mirar de seu leito.
Ano após ano seguir seu curso;
ao oceano deixar meus restos.
Sobra de vida... Mórbido sono...
É natural, não é esperteza,
uma vítima vil do outono
aproveitar-se da correnteza!
12 comentários:
Josias, não fazes idéia de como meus sentidos receberam e celebraram as suas palavras, generosas e afáveis; sobretudo porque dá-me imensa alegria em "escutar" os rasgos de interpretações feitas pelas pessoas que mais do que me lerem, me sentem. Consegues ao mesmo tempo fazer a junção e a disjunção do que escrevo com o retumbar do eco que em ti causo, causa, a sonoridade dessa minha escrita tão desabusada; mas instituída de intencionalidades (mexer também com os sentidos de quem sente aquilo que escrevi enquanto sentiam), porque mais do que escrever, escrever com simplicidade, porque não me atrevo e nem sei escrever diferente, e nem saberia, mas desconfio que já percebestes as tonalidades predominantemente passionais nesses meus escritos, e sentir que lhe toquei, me deixa muitissimamente feliz, porque optei por escrever (ao menos tento), digamos assim, sobre o lado mais amoroso, romântico, apaixonado, sexualizado da vida, ou simplificando: as belezas que também fazem parte do nosso cotidiano, por vezes tão carregado de dificuldades, posto que, esse ofício de viver, tem também um lado profundamente obscuro e amargo, que tento equilibrar, e deixo essa tarefa à outras pessoas que o desejem, quero mesmo a leveza, e nem por isso me considero uma alienada, mas passa pelo campo das escolhas pessoais, sei que me entendes, risos... Aproveito aqui para dizer-te também do quanto eu amei o seu tratado melódico do meu singelo azul-mirtilo, penso que podemos desenvolver um poema a quatro mãos e um sem fim de emoções, a partir do seu texto-comentário...É uma proposta, quando estiveres com mais tempo e eu também, podemos tentar... A narrativa da rotunda, foi algo chocante, que presenciei, e eu gosto mesmo de escrever sobre o dia-a-dia, embora saiba das minhas limitações, ainda mais quando enveredo pelo campo da prosa, porque eu acho bem difícil, e tenho muita dificuldade em ser sintética (já percebeste por aqui, né?) Hehehe...
Quanto à sua poética, creio ser redundante dizer o quanto é maravilhosa, isso deves estar cansado de escutar, acaba por ser banal o elogio, mas como hei de fazer para dizer-lhe, se não consigo ainda fundar um outro código léxico, que possa (re)inaugurar o mundo em que habitam os seres inspirados como tu? O que eu devo dizer a alguém que consegue atrelar magistralmente, o pensamento, as sílabas, o `som e o sentido´? E numa espécie de desabafo ou tratado da solidão (perdoe-me, mas senti uma solidão denunciando, anunciando e enunciando o que permeia, ou permeava o seu íntimo, na altura da escrita desse seu belo poema), mas nem por isso, uma solidão perversa -acho até que escolhida, solidão de caso pensado - o caminhar consigo mesmo, que eu particularmente não vejo dor nem autopiedade ou auto-comiseração nisso, mas como se fora uma verdade estabelecida, um ciclo, uma moléstia que tenha lhe acometido, e tenhas que vivê-la, numa certa resignação... Ufa! Vou abandonar o comentário, senão nunca mais termino. Prazer imenso em estar interagindo contigo. Vou linkar teu sítio ao meu igualmente.
Beijo!
P.S.
A canção do Chico, seria a glória, mas confesso que apesar de conhecê-la, a música que me torturava o juízo, era exatamente essa que acabei postando ao pé do texto, e eu sempre me deixo levar pela música (e pelas imagens que elas em mim evocam)...
;)
Josilhas!
Passei um tempo sem ter o prazer de ler seus poemas - culpa sua que passou um tempão sem postar. Fico contente de ver que você voltou a desfiar os seus versos. Abraço do fã.
Josias,
Nem a correria e sua consequente ausencia aqui nos inscritos fizeram-te menos inspirado. Tuas palavras provocam sempre um universo de sensações indiscritiveis! Muito bom...
Abs.
O belo poema, mais uma vez ancorado no pouso seguro da forma fixa - nos remete à ideia do abandono. Freud diz que o ser humano é "faltoso". Sempre, por mais completo que esteja, vai sentir falta de algo. É diferente de um animal, que não pensa em se mudar para a casa do vizinho ou em viajar para outro país, mesmo estando bem e feliz no seu. O bom é que Drummond assimilou bem
esta "Ausência" (vide inesquecível poema com o mesmo título), essa falta que faz parte da vida. Valeu demais, Josias.
Este foi o teu poema que mais dificuldade senti em comentar e mais vontade eu tive em fazê-lo, talvez.
Desde que o li, hoje pela manhã, a lágrima vem e vai e teima em não cair, desafiando a gravidade ou, quem sabe, a minha vontade.
Tens que escrever um livro, camarada. É muito pouco restringir tanto encanto e realidade a uma tela de computador. Pensa nisso, as folhas secas agradecem. Na noite de lançamento, estarei lá; possivelmente, a última da fila, quem sabe assim não me sobre mais tempo.
Que Deus te nutra de muita luz!
Abraço grande.
Magna
Obs.:ah, a foto é simplesmente magnífica. Dá um toque especial, diria até um carinho às tuas palavras. Vez ou outra também tenho me banhado nas imagens de Pachelly Jamacaru, como já deves ter percebido. O cara é bom demais com as lentes.
Grande Josias. O Poema reverbera o abandono, e a resignação com a qual temos que conviver. Mas lembre-se sempre do sábio conselho de Maiakovsky: "Nesta vida morrer não é difícil / O difícil é a vida e seu ofício". Bola pra frente, camarada.
Eu gostei muito desse. Inclusive acho que nasceu pra ser recitado. Decore logo!!!
Pois eu ainda não te reconheci. Cheguei em teu blog não sei como, creio que por esta rede de troclores - Estradar, Samaroni... Gostei e me abanquei. Mas vc deixou menos referências fotográficas que eu... Aviva mais minha memória, que ela tá meio lenta.
Onde tem troclores, leia-se TRICOLORES!!!
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