Breve é contorcido,
o rosto.
Em que aturdido
esgar?
Teria iludido
o gozo,
ou se combalido
ao tentar?
Só sei é que nesse estupor,
quão feia é a face do amor!
Espaço para pequenos relatos dos dramas, misérias e graça do cotidiano. Instantâneos do dia-a-dia que nunca lograram acontecer, mesmo que às vezes pareça o contrário... E, claro, poesia.
FALSO SONETO DO ABANDONO DO AMOR
Conduzido por Virgílio, Beatriz não encontrei.
Amordacei meus desejos num oco de infernal deserto,
que transformava em longe, o que em si, é de mim, tão perto,
tornando turvo em meu espírito o que de fato procurei.
Não deixei de galgar, à força, palmos de certeza,
concedendo aos vendavais o pano da preciosa veste.
Cerzida com, de Werther a entrega, e a paciência de Penélope,
pondo a perder, assim, a possibilidade da real beleza.
Entreguei-me ao temor crescente do abandono cínico
das ilusões, criando um bestial espaço imaginário,
como num gestual patético de um indiscreto mímico.
Rezem por mim, Senhores! que d´alma gélida arda fogo incendiário;
e que se despregue meu corpo do torpe ritual pantomímico,
pra que não mais traga o coração e sonhos envoltos num sudário.
25. 09. 2003