terça-feira, 30 de junho de 2009

Poema


Que coisa?

Que coisa é que sem nome nos empresta um ato?
Não seria o gaguejo
antes que a ausência da fala,
a confusão do desejo?
Que ferida aberta na linguagem
faz calar o grito
e nos remete ao silêncio do interdito?




Poema extraído da prosa poética de Ana Areias,

especificamente do texto “Um outra coisa”.

http://ana-areias.blogspot.com/2009/06/uma-outra-coisa.html


PS: Como algumas pessoas reclamaram não entender esse post, segue um pequeno esclarecimento.

O poema é de minha autoria.

Apenas foi inspirado num pequeno diálogo, de autoria de Ana Areias, publicado em seu blog "Café com Leite".

Os textos de Ana são sempre muito poéticos, daí a facilidade para sacar deles... poesia!

A forma como exressei essa "inspiração" (Poema extraído da prosa poética...) segue a influência de Manuel Bandeira, quando intitula um de seus famosos poemas "Poema tirado de uma notícia de jornal".

Portanto, é isso. Um poeminha meu e um prosa em diálogo de Ana Areias, a qual vocês terão acesso acionando o link.

Abraços!

domingo, 28 de junho de 2009

Poema

"Encruzilhada" - acrylic on canvas, de Marcio Melo. Retirado de: www.marciomelo.com/LuneenLion/index.htm





Que qüiproquó é esse?



Que qüiproquó é esse?
Mal deu tempo de notar...
Que qüiproquó danado
Nosso amor... deu tudo errado
Só pode ter sido azar!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Poema


Ilustração: Valerio Carruba



A Saga da Fala


Se arrasta a lesma do tempo,

esmagada pelo peso das palavras.

Letras vazias, como adereços,

ataviam rotas vestes,

que cobrem as apodrecidas carnes

do esquálido corpo

da rotineira hipocrisia de nossa voz.


Voz sempre velada, que perpetra

disfarces.

De cúpida origem e alma avara.


Fala que costura engodos

e imprime sorrisos – simpáticos simulacros dos ódios...


Fala firme e tranqüila, inscrita em mansa face:


Ah! justo deus, tal a humana sorte

para o nosso tagarelar insano:

que dissimula desejo de morte

por trás de cada banal ‘eu te amo’.



terça-feira, 2 de junho de 2009

Poema


O pulo do gato


No chão

o gato

às vezes

é caça


Às vezes

é o cão

que força

o salto –

o cão

em sua

raiva atávica


Ao gato

no escuro

resta o pulo

e a segurança

do muro


Mas

quem se guarda

detrás

do muro,

de outro mal

se esquiva

e improvisa

sobre o tal

uma nova

cerca


Com a qual

o gato

em sua fuga -

suspensão

do corpo e da vida -

fará contato


Une

o destino infame:

o medo do dono

do muro

e o medo

do gato

do cão -


E a pele e o arame

no toque,

no choque

que é o fim:

eletrocução