Uma mulher com toda a beleza de seus 32 anos. Esguia, com um rosto bem desenhado e afilado. Por mais que a insegurança a fizesse recusar a admitir-se bela, sabia-se desejada. Mas, cada confirmação pontual de seu poder de atração era rapidamente sobrepujada pelo pensamento persistente, maciço de desconfiança, de dúvida. Assim, via-se em eterna necessidade de reafirmar sua capacidade de sedução.
Entregara-se ao amor verdadeiramente. Namorara e casara. Porém, a seqüencia de desencontros, renúncias desvalorizadas, atritos fúteis e o ciúme exacerbado do parceiro, esfriaram-lhe os sentimentos; abriram uma cova onde paulatinamente se foram soterrando os bons momentos de paixão, até que a terra da indiferença e do desânimo sulcou sua alma definitivamente e transformou o terreno de seu espírito em solo infértil para a flor da antiga chama.
Pensava nisso, nessa manhã de sol forte e praia movimentada. Esperava poder um dia reviver um encontro amoroso. Se possível, desejava que a plenitude desse próximo enlace durasse o tempo de sua vida inteira. Nascera para o amor. Mas, na verdade, vivia o rescaldo do fracasso. Experimentara sensação semelhante a de pagar pesadas prestações monetárias para enfim não poder resgatar o algo que pretendia. Tempo irredento. Acaso não houvesse seu filho, brotado desse galho seco do passado, a frustração seria maior. Seu filho era uma linha paralela de tempo, a âncora mais forte que a atava à realidade. Lindo!
Todavia, uma relação filial parece não abarcar a totalidade da alma humana e para sentir-se mulher buscava outros caminhos do querer; então aspirava paixões antes que novas núpcias. Sentia necessitar ser arrastada pela força de uma sedução, entregar-se a uma aventura sem compromissos com o futuro, atiçar o desejo e saciá-lo com uma vencedora. E por isso ria agora. Ria discretamente, para si mesma, pois próximos a ela, dois rapazes, sentados à frente, a olhavam insistentemente e teciam comentários. Fingiu não perceber. No primeiro momento, inclusive, desacreditou ser ela o objeto da cobiça. Eles eram lindos!
Agitaram-se-lhe o sangue e a imaginação. Suas idéias condensaram-se em um tema específico, fazendo pulsar as artérias, alterando a respiração, acionando os mecanismos das vazantes femininas, aumentando-lhe o calor do corpo. Ficou em um estado de suspensão, um tanto alheia um tanto alerta para a abordagem esperada. De quando em quando concedeu brevíssimas trocas de olhares; o que após virava a face e seguia na convulsão ideal.
Depois de alguns meses sozinha – solidão que alimentava sua infortunada insegurança -, nos quais não se permitiu a aproximação de homem qualquer, sentia-se preparada, tranqüila, ávida de fogo passional. Estava, agora, grávida de sensualidade. O que passou estava decantado e neutralizado, e o presente aberto à nova vida.
Enquanto sua mente vagava no embalo eufórico, não percebera a vinda dele. Vinha do mar, a pele brilhando pelos reflexos solares na água que lhe escorria do corpo, os cabelos um pouco em desalinho. Sorriu absorta, o espírito dissipado na brisa marinha, e ouviu:
- Mamãe! Mamãe! Eu vi um peixinho bem na beirinha! Ele era amarelo e preto...
Entregara-se ao amor verdadeiramente. Namorara e casara. Porém, a seqüencia de desencontros, renúncias desvalorizadas, atritos fúteis e o ciúme exacerbado do parceiro, esfriaram-lhe os sentimentos; abriram uma cova onde paulatinamente se foram soterrando os bons momentos de paixão, até que a terra da indiferença e do desânimo sulcou sua alma definitivamente e transformou o terreno de seu espírito em solo infértil para a flor da antiga chama.
Pensava nisso, nessa manhã de sol forte e praia movimentada. Esperava poder um dia reviver um encontro amoroso. Se possível, desejava que a plenitude desse próximo enlace durasse o tempo de sua vida inteira. Nascera para o amor. Mas, na verdade, vivia o rescaldo do fracasso. Experimentara sensação semelhante a de pagar pesadas prestações monetárias para enfim não poder resgatar o algo que pretendia. Tempo irredento. Acaso não houvesse seu filho, brotado desse galho seco do passado, a frustração seria maior. Seu filho era uma linha paralela de tempo, a âncora mais forte que a atava à realidade. Lindo!
Todavia, uma relação filial parece não abarcar a totalidade da alma humana e para sentir-se mulher buscava outros caminhos do querer; então aspirava paixões antes que novas núpcias. Sentia necessitar ser arrastada pela força de uma sedução, entregar-se a uma aventura sem compromissos com o futuro, atiçar o desejo e saciá-lo com uma vencedora. E por isso ria agora. Ria discretamente, para si mesma, pois próximos a ela, dois rapazes, sentados à frente, a olhavam insistentemente e teciam comentários. Fingiu não perceber. No primeiro momento, inclusive, desacreditou ser ela o objeto da cobiça. Eles eram lindos!
Agitaram-se-lhe o sangue e a imaginação. Suas idéias condensaram-se em um tema específico, fazendo pulsar as artérias, alterando a respiração, acionando os mecanismos das vazantes femininas, aumentando-lhe o calor do corpo. Ficou em um estado de suspensão, um tanto alheia um tanto alerta para a abordagem esperada. De quando em quando concedeu brevíssimas trocas de olhares; o que após virava a face e seguia na convulsão ideal.
Depois de alguns meses sozinha – solidão que alimentava sua infortunada insegurança -, nos quais não se permitiu a aproximação de homem qualquer, sentia-se preparada, tranqüila, ávida de fogo passional. Estava, agora, grávida de sensualidade. O que passou estava decantado e neutralizado, e o presente aberto à nova vida.
Enquanto sua mente vagava no embalo eufórico, não percebera a vinda dele. Vinha do mar, a pele brilhando pelos reflexos solares na água que lhe escorria do corpo, os cabelos um pouco em desalinho. Sorriu absorta, o espírito dissipado na brisa marinha, e ouviu:
- Mamãe! Mamãe! Eu vi um peixinho bem na beirinha! Ele era amarelo e preto...
Para S. L.