Mudança de estação
Estava exausto; como, aparentemente, exausta estava a paisagem a sua volta. O excesso de folhas amarelecidas deitadas ao chão denunciava o trabalho do outono. Sentiu na pele a aragem gélida: o vento traficava já o inverno em seus moinhos. No mesmo instante um gomo de flor despenca sobre o solo e assusta o pequeno pássaro que pousado nele estava. Teve pena do pássaro, teve pena de si mesmo. Se lhe fosse permitido, choraria. Marchas, batalhas, esforços, vitórias... tudo consumia-se no vazio. Todos os atos a que era compelido, esgotara-o. O centurião rumou na direção do rochedo, afastando-se ainda mais do acampamento. Com gestos calmos despojou-se de todas as armas; lançou-as ao abismo. A terra as recebeu com um quase inaudível baque. “Não lutarei jamais”, disse. Trazia inscrita em sua proteção de couro a marca sagrada do peixe. “Eu visto a verdade”. A noite chegava, julgou que gritavam seu nome. Pôs-se de pé. “Não poderão demover-me”. À beira do penhasco via vultos se aproximarem. O que queriam dele? Perdoar-lhe-iam o extravio das armas? Não sabia. Por segundos olhou o imenso vale que se abria a sua frente. Resistiria. Teve a certeza de que, dali para frente, independente da vontade alheia, mudaria seu caminho: vertiginosamente.