quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Poema


"A persistência da memória", Salvador Dali


Como quem perdido em encruzilhada



Como quem perdido em encruzilhada,
vaga esse amor abléptico e errático.
Tétrico fantasma a lançar repto
à sina que ao sonho finda, esmaga.

Transpõe, equívoco, a linha tênue
do umbral da morte; contudo em seguida,
qual zumbi de cemitério, à vida
volta pra errar entre gente e lêmures.

Em árido confim tal morto-vivo
plange, condenado por tribunal
oculto; vulto a pagar por mal
incerto, ente fadado ao castigo.

E infringiu qual desumana cláusula
esse amor, atrativo de entreato?
Quem inspirou sua alma retrátil
a ter o pó dos dias em clausura?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Poema


Folha Seca


Já vicejei em frondosa árvore,

fruindo seiva pura da terra.

Hoje não há quem se arvore em ver-me:

pairo só, estranho cadáver.


Sem alarde povôo as esquinas;

à surdina evolo em moinhos,

sem vontade, cativa da brisa,

sou varrida por pés e ancinhos.


Sonho ao menos no rio banhar-me

e à cidade mirar de seu leito.

Ano após ano seguir seu curso;

ao oceano deixar meus restos.


Sobra de vida... Mórbido sono...

É natural, não é esperteza,

uma vítima vil do outono

aproveitar-se da correnteza!